Canal Rural MT l Foto: Pedro Silvestre
Chuvas no estado ainda apresentam irregularidades, segundo produtores, o que vem exigindo cuidados quanto ao manejo da soja
A irregularidade das chuvas em Mato Grosso segue atrasando o cumprimento do calendário de plantio da soja 2024/25 em Mato Grosso. Até o último dia 25 de outubro, o estado contava com apenas 55,73% dos 12,66 milhões de hectares semeados. Situação que vem ligando o sinal de alerta para o aumento de incidência de pragas e doenças nas lavouras.
Apesar do avanço semanal de 30,65 pontos percentuais na variação semanal, o ritmo da temporada está 14,32 pontos percentuais atrasado em relação ao ciclo 2023/24 e 6,59 pontos percentuais abaixo da média dos últimos cinco anos, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Em seu boletim semanal, divulgado na segunda-feira (28), o Instituto destacou que as previsões do NOAA para esta semana apontavam chuvas na maior parte do estado e que poderiam variar entre 25 e 35 milímetros, com possibilidade de volumes maiores nas regiões oeste, centro-sul e sudeste, de 35 a 45 milímetros.
Especialistas pontuam que o início mais seco da safra cria um ambiente propício para a proliferação de pragas e doenças, devido as plantas estarem mais debilitadas pela escassez de chuvas.
A pesquisadora da área de entomologia da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), Lucia Vivan, explica que seca é uma grande contribuinte para o aumento mais rápido da presença de mosca branca na soja, e que os danos podem iniciar já em estádios mais precoces da planta, como fumagina nas folhas, seca e queda prematura de folhas, o que pode ocasionar perdas de produtividade.
A especialista alerta que já é possível ver danos significativos, inclusive, causados pela largarta elasmo, os coleópteros e a lagarta Spodoptera frugiperda nas plantas de soja, comprometendo ainda mais o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo.
“Além disso, a infestação por tripes (Frankliniella schultzei) tem se intensificado, especialmente em algumas áreas, podendo levar às deformações nas folhas e flores, e, consequentemente, à queda na produtividade”, relata Lúcia.
O monitoramento constante das lavouras, a adoção de práticas de manejo integrado de pragas como uso de produtos biológicos, produtos químicos recomendados para os alvos, são algumas das estratégias que podem ser utilizadas para minimizar os danos e garantir uma produção sustentável.
“O tratamento de sementes é importante nesse momento, mas se o período seco continuar, a pressão dessas pragas iniciais aumenta, como é o caso do cascudinho-da-soja (Myochrous armatus). Quando as plantas têm germinação lenta o impacto deste inseto é maior, podendo ter perdas de plantas”, acrescenta a entomologista.
Seca eleva risco de nematoides
Além das pragas, a falta de água provoca estresse nas plantas, tornando-as mais suscetíveis ao ataque de nematoides. As raízes de plantas enfraquecidas pela seca são alvos mais fáceis para esses parasitas, que se alimentam de seus tecidos.
O risco é significativo quando o produtor não tem conhecimento sobre a situação em sua área.
Conforme a pesquisadora da área de nematologia da Fundação MT, Tania Santos, a falta de conhecimento sobre a infestação por nematoides em uma área de cultivo pode agravar significativamente os problemas, especialmente em anos de seca. Diagnosticar precocemente a presença desses parasitas é crucial para a adoção de estratégias de controle eficazes.
“O uso de cultivares resistentes, a rotação de culturas, o controle biológico e, em alguns casos, a aplicação de nematicidas químicos, são ferramentas importantes nesse processo. A seca pode intensificar os problemas causados pelos nematoides, tornando o diagnóstico precoce e a adoção de medidas preventivas ainda mais essenciais”, pontuou Tania.
A pesquisadora enfatiza, ainda, que para um controle eficiente dos nematoides, o primeiro passo é realizar um diagnóstico preciso.
“A análise nematológica é a forma mais utilizada para identificar a presença e a quantidade de nematoides em uma área. Através dessa análise, é possível determinar a espécie, raça, população e a distribuição dos nematoides na área de cultivo, essas são informações essenciais para a escolha das estratégias de controle mais adequadas. Recomenda-se que essa análise seja realizada durante a safra vigente, ou seja, aproximadamente 70 dias após o plantio, para que o produtor tenha tempo de planejar de maneira assertiva a safra seguinte e adotar o manejo dos nematoides mais eficaz em sua área”, afirmou Tania.